Hoje
completa um ano de morte do cronista esportivo Valério Luiz, de 49
anos. Ele morreu quando saía da Rádio Jornal, quando foi abordado e
executado com seis tiros. O jornalista teria sido assassinado por conta
de seus comentários acerca de um dos times goianienses. Filho de
Valério, Valério Luiz de Oliveira Filho, 24 anos, advogado, assumiu a
assistência de acusação. Ele faz revelações exclusivas sobre o inquérito
policial, o processo judicial e a realidade de um filho de jornalista
que teve a voz calada à base de tiros.
ENTREVISTA completa
Diário
da Manhã – Depois de tudo que aconteceu, qual é o sentimento, além da
saudade , que você carrega, que você tem disso tudo?
Valério
Luiz Filho – Primeiramente agradeço estar aqui, é um prazer, uma honra
estar aqui no DMTV, uma iniciativa que meu pai ajudou a construir e
tudo, nosso sentimento agora é de saudade como você mesmo disse, é
estranho pensar que vai fazer um, dois, três anos e ele não vai estar
conosco, é um sentimento de expectativa porque estamos na fase judicial
do processo e estamos tendo alguns problemas no Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás, mas o processo está caminhando pro seu final, logo a
instrução vai ser encerrada e a nossa expectativa agora fica toda em
cima de que o Tribunal de Justiça de Goiás, de que os juízes mande os
responsáveis para o Tribunal do Júri, que é isso que nós esperamos.
DM – Quais são os empecilhos que estão acontecendo no finalzinho do processo?
Valério
Luiz – As nossas preocupações são basicamente o seguinte: houve um
episódio, quando o Maurício Sampaio saiu da última vez da prisão, o
último habeas corpus, a gente sabe que houveram várias irregularidades
ali.
DM – Quais?
Valério
Luiz – Ele foi liberado com um habeas corpos que levou em consideração o
depoimento do Marquinhos, que a Polícia Civil anulou e declarou
inexistente, tanto que afastou o delegado que tomou esse depoimento
Manoel Borges, depoimento ilegal, a história inteira foi a seguinte:
Maurício Sampaio já tinha sido julgado, o habeas corpus dele, pela
Primeira Câmara Criminal, e esta entendeu que a prisão preventiva se
justificava. Pelo ordenamento jurídico, você não pode entrar com outro
habeas corpus e a Câmara não pode reapreciar a matéria sem que exista um
fato novo que mude as circunstâncias que justifique essa nova
apreciação. Então como a Câmara tinha decidido que Maurício deveria
ficar preso preventivamente e não existia nenhum fato novo, qual foi a
ideia deles, ao invés deles recorrerem por STJ eles resolveram criar
esse fato novo, então pegaram uma matéria que saiu aqui no Diário da
Manhã , em março onde a Lorena dizia (minha madrasta), que tinha ouvido
por especulações que os advogados de Maurício poderiam oferecer dinheiro
ao Marcus Vinicius para que ele mudasse o depoimento. Pegaram essa
matéria, aqui do Diário da Manhã, entraram com uma queixa crime contra a
Lorena no 4° Distrito Policial. O delegado desse Distrito, Manoel
Borges, esperou o Delegado da Homicídios Murilo Polati entrar de férias e
foi lá, pegou o depoimento do Marquinhos como quis, esperou o Itanei
Francisco Campos, que era quem tinha mantido o Maurício preso na Câmara
entrar de férias, entrou com um novo habeas corpus, e a Câmara por
incrível que pareça não averiguou nada disso. Primeiro o depoimento foi
tomado irregularmente, tanto que foi anulado e em segundo lugar , esse
terceiro depoimento que eles pegaram de forma irregular não difere em
nada dos outros do Marcus Vinícius. Então primeiro que foi pegado
irregularmente e segundo que mesmo se tivesse sido válido, não houve
nenhum fato novo. Foi um erro tão grosseiro por parte da Câmara Criminal
que avaliou ali o habeas corpus do Maurício como se já não tivesse
julgado isso poucos dias antes, que a gente fica preocupado, porque no
final do processo quando todas as provas tiverem sido colhidas, é o juiz
de primeira instância que vai decidir se eles vão para Júri Popular ou
não. Então se eles decidirem que eles vão pra Júri e eles apelarem para o
Tribunal essa decisão, são aqueles desembargadores que vão decidir se o
Maurício vai ou não para Júri Popular.
DM – Você como advogado, o que você retira disso tudo que está acontecendo?
Valério
Luiz – Eu retiro que a pressão tem que ser constante, a vigilância tem
que ser constante, porque coisas erradas já aconteceram no processo.
Você pegar, há eles nunca tentaram atrapalhar a investigação, nunca
tentaram atrapalhar instrução criminal e de você fabricar um depoimento,
pegar um depoimento irregularmente, fora do inquérito e juntar para
conseguir habeas corpus, junta nos altos de primeira instância, isso é
atrapalhar instrução criminal sim, isso é agir de forma irregular no
processo sim.
DM – O inquérito é “fajuto e falso”?
Valério
Luiz – É, essas palavras são do Nei Moura Telles, que a gente sabe que é
um grande ator, sempre com esse tipo de declaração, ofendeu
pessoalmente a delegada Adriana Barros, à acusou de prevaricação, à
acusou de um crime, porque quando ele acusa um delegado de utilizar da
sua função pública para perseguir alguém, para beneficiar alguém, isso é
prevaricação, ele tá acusando a pessoa de um crime. Não sei se ele já
está sendo processado por isso, mas provavelmente deve estar. Então eu
acompanhei o inquérito, quando ele foi concluído tive acesso ao
inquérito inteiro, existem quebra de sigilos telefônicos no inquérito,
pede-se autorização para o juiz e ele concede e as quebras são feitas.
Então existe todo um aparato de provas, porque eles falam que o
inquérito é fajuto, porque eles disseram que não se foi a fundo em
outras linhas de investigação. Ora, mas quando não se tem nem o primeiro
elemento ali em outra linha de investigação para te levar ao próximo e
ao próximo não tem como você seguir nesta linha, como você vai segui por
exemplo, por uma linha de investigação de um crime passional se você
procura algum relacionamento extraconjugal, do meu pai, por exemplo, e
não acha e ninguém sabe de nada, não tem amante não tem nada, então se
você não tem um primeiro elemento de informação para te levar para o
próximo, não tem como você seguir essa linha de investigação. Não
investigariam se foi latrocínio, pelo amor de Deus, seis tiros a queima
roupa, sem levar nada, sem nenhuma característica de latrocínio. Como
você vai seguir por essa linha. Então todos os elementos de informação
levavam a conclusões que chegaram, então a gente sabe todo o contexto do
que estava acontecendo na época nos interveres entre meu pai e o
Maurício Sampaio, então é simplesmente natural que todas as evidências
levaram para onde o inquérito foi conduzido. Aí agora quando Nei Moura
Telles chama fajuto, isso é simplesmente um recurso retórico dele, para
tentar amenizar um pouco a opinião pública.
DM – O processo judicial tem várias fases, em que fase está e o que mais falta?
Valério
Luiz – Quando a denúncia é oferecida, primeiramente se pega as defesas
prévias, depois se marcam as audiências para que sejam escutadas as
testemunhas e interrogados os acusados.
DM – Isso já foi feito?
Valério
Luiz – As defesas prévias já foram apresentadas, a maioria das
testemunhas já foi ouvida, falta escutar algumas testemunhas de defesa
do Maurício Sampaio, e interrogar os acusados. Houveram algumas
providências de umas diligências mais técnicas que foram solicitadas
também, algumas perícias e tudo, tem que esperar elas terminarem, após
isso, vem as alegações finais, tanto da acusação quanto da defesa fazem
como se fosse o seu parecer geral sobre tudo que está ali no processo e
terminado toda essa fase o processo e terminado tudo, essa fase, o
processo vai para o juiz, e o juiz decide se os acusados vão pro
Tribunal do Júri ou não.Qual critério ele tem para decidir isso?! A
materialidade do crime, que no caso não tem nem o que discutir, a
materialidade do crime é ter indícios suficientes para ver se o crime
aconteceu ou não, isso aí não tem discutição porque meu pai morreu, uma
pessoa está morta. Outro requisito são os indícios de autoria, então ele
vai analisar se dentro do inquérito e dentro do processo judicial
existem elementos suficientes que apontem para Maurício Sampaio,
suficientes para que ele seja mandado para o Júri Popular.
DM – Marquinhos ter dito que matou e depois ter voltado atrás nessa afirmativa pode prejudicar em alguma coisa?
Valério
Luiz – Eu acredito que não, porque se você olhar no contexto geral,
tudo isso se encaixa perfeitamente, porque que Marquinhos estaria entre
eles, em primeiro lugar. Então se você vê ele foi colocado lá pra ser
justamente o bode espiatório, tanto que ele deu entrevista à imprensa
dizendo que dias antes das prisões temporárias, ele foi procurado pelo
Da Silva, e disse pra ele que ele deveria negar tudo e em último caso
deveria assumir, e que se ele entregasse qualquer um deles, tanto ele
quanto a família seriam mortos assim como aconteceu na chacina do Jardim
Olímpico.
Ele
(Marquinhos) foi preso, assumiu e ele nunca negou participação do
crime, ele contou tudo como foi, mais assumiu a autoria dos disparos,
quando que ele contou a história verdadeira mesmo, que o Figueiredo que
era o executor, quando ele ficou sabendo que os outros também tinham
sido presos. Então quando ele ficou sabendo que Da Silva estava preso,
que Figueiredo estava preso, que Maurício estava preso, aí ele viu que
podia entregar já, porque aquelas pessoas também tinham sido pegas.
DM
– No dia em que Marquinhos foi preso, ele foi primeiro levado para a
Delegacia de Narcóticos, aqui de Goiânia. Ele recebia visitas de
advogados que se diziam advogados dele, chegou um dia em que o
Marquinhos chegou à delegada que presidia o inquérito e disse: “Nenhum
desses advogados é meu advogado.” Isso trouxe alguma surpresa para
vocês?
Valério
Luiz – Surpresa não, mas nos deixa inseguros, não deixa dúvida que
existe uma possibilidade grande de que Marquinhos seja abordado para
enfim, não sei se isso está acontecendo ou não, não tenho contato com o
Marquinhos, mas a gente sabe que o depoimento dele foi fundamental para o
desenvolvimento do inquérito, então existe sim a possibilidade de
alguém querer aborda-lo para que ele mude o seu depoimento, isso é uma
possibilidade, por isso é fundamental que o Marquinhos compareça no dia
dois de agosto para ser interrogado, porque por mais que a pessoa tente
inventar uma coisa ou outra, a mentira é um processo criativo, a pessoa
precisa inventar, por isso o interrogatório é tão importante, porque
você vai perguntando para a pessoa até ela cair em contradição, e a
verdade acaba aparecendo.
DM – Como você está, hoje?
Valério
Luiz – Vivendo essa expectativa, o sentimento, o maior sentimento além
da saudade e da falta do meu pai é sempre de preocupação, por causa de
todos os acontecimentos, então a gente fica realmente preocupado e muito
ansioso para que tudo se desenvolva logo, a gente fica preocupado
também com a nossa segurança, porque a gente sabe que o que aconteceu
não foi uma coisa leve, e as pessoas que tiveram coragem de fazer o que
fizeram com o meu pai, você pode ter certeza que fizeram isso outras
vezes e enfim, eles não tem nenhum limite, então ficamos preocupados
mesmo, tanto com o processo quanto com a nossa segurança, mas vamos
continuar até o fim e vai valer a pena, quando todos eles forem
resposabiizados pelo que fizeram com o meu pai.
DM – Você é outra pessoa?
Valério
Luiz – Não tenha dúvida disso, sou outra pessoa principalmente na
questão de enxergar coisas que eu não enxergava, o que aconteceu com o
meu pai me forçou a enxergar as entranhas do poder mesmo, enxergar como
as pessoas se relacionam, como tudo acontece, então, hoje, eu tenho uma
visão bem mais abrangente de como as coisas acontecem aqui no Estado de
Goiás, e contribuem ainda mais para a minha ansiedade e preocupação.
DM – Hoje, você não busca só respostas para o caso de seu pai. O que é o Instituto Valério Luiz?
Valério
Luiz – A natureza Jurídica, de uma associação sem fins lucrativos. Já
temos nossa sede administrativa, temos pessoas que colaboram conosco,
esse protesto de agora, de hoje, está sendo organizado por nós, estamos
desenvolvendo diversas ações, entramos com uma ação popular questionando
a titularidade do cartório de Maurício Sampaio, tanto é que a ação do
Ministério Público, a ação civil pública foi bem divulgada, foi
distribuída por dependência, a nossa ação, fizemos visitas para ministra
Maria do Rosário demonstrando a situação aqui do Estado de Goiás e
informando também da existência do Instituto Valério Luiz, então aos
poucos estamos desenvolvendo nossas ações, e é claro que agora no começo
estamos focados no processo do meu pai porque partiu disso, mas o nosso
objetivo é expandir o leque de ações tratando também da violência aqui
do nosso Estado, tanto que para esse protesto de hoje.
DM – Hoje, haverá um protesto em Goiânia, onde ?
Valério Luiz – Na Praça Cívica, a concentração será ali no Coreto.
DM – Que horas?
Valério
Luiz – A partir das 8h30 da manhã, estaremos lá, mas quem quiser chegar
em qualquer período da manhã pode chegar, vai ser bem-vindo, nós vamos
sair por volta de 11h30, vamos sair dessa concentração lá na Praça
Cívica, e vamos dar uma volta no Tribunal de Justiça.
DM – Existe medo de profissionais da imprensa?
Valério
Luiz – O que os profissionais da imprensa estão falando para você hoje?
Primeiramente você não tenha dúvida que aquilo foi um recado, poderiam
ter matado o meu pai em qualquer lugar, poderiam ter matado na porta lá
de casa, quando ele andava de bicicleta, mas mataram ele da forma mais
truculenta possível, ali, com seis tiros na porta da rádio, assim que
ele saiu do programa, então foi um recado, como se o Maurício estivesse
dizendo, se falar mal de mim vai acontecer isso mesmo, e eu faço isso, e
agora. Então, foi uma tentativa de demonstração de poder e é claro que
isso assusta a todo mundo, por mais que o processo esteja andando e
todos estejam correndo atrás, ninguém quer ser o próximo, saber que a
pessoa vai ser responsabilizada no futuro, não tira o medo de ninguém de
morrer, então, ninguém chega pra mim e fala diretamente “estou com
medo”, mas a gente vê que a omissão de alguns profissionais da imprensa
já caracteriza esse medo, e a gente sabe que o Maurício Sampaio é dono
da Rádio 730 e isso acaba criando uma situação muito delicada aqui no
Estado de Goiás, porque a gente não pode exigir dos profissionais
daquele veículo de imprensa que se posicionem contra a linha editorial
do veículo de imprensa que eles trabalham.
DM – Valério, o que eu não te perguntei que você tem vontade de falar?
Valério
Luiz – Acho que nesse momento é importante chamar todo mundo para ir,
hoje, vai começar a partir das 8h30 da manhã, no coreto da Praça Cívica,
uma concentração, todas as pessoas que tiveram na sua família uma
história parecida com a nossa, pai, irmão, irmã, mãe que foram
assassinadas e não tiveram oportunidade de contar a história, como nós
temos a oportunidade, então vai ter uma passeata esperando eles, para
que possam dar seus depoimentos e a partir das 11h30 nós sairemos em
passeata em volta do Tribunal de Justiça, peço que todos nos acompanhem
também, então estão todos convidados para hoje, a partir das 8h30 da
manhã, na Praça Cívica.
Fonte: Diário da Manhã
pq pra mim a lei é pra todos..
https://www.facebook.com/photo.php?v=479078565496863
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=495835597150027&set=a.213622012038055.56279.213615838705339&type=1&theater
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=495835597150027&set=a.213622012038055.56279.213615838705339&type=1&theater
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=495835597150027&set=a.213622012038055.56279.213615838705339&type=1&theater